sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ministro da Cultura rejeita onda verde nas eleições, mas aposta em “onda Marina”

Fora do PV temporariamente, Juca Ferreira diz que mérito nas urnas foi da senadora

Ed Ferreira/Agência Estado/14.06.2010

Afastado do PV desde março deste ano, ministro Juca Ferreira defende apoio de Marina a Dilma

Marina Novaes, do R7

Empenhado em eleger a candidata Dilma Rousseff (PT) à Presidência, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, ainda não tem planos para voltar ao PV,partido que deixou temporariamente em março deste ano. Em entrevista ao R7 na última sexta-feira (8), o ministro criticou a hipótese de a sigla apoiar o tucano José Serra, e não a petista, no segundo turno das eleições, mas admitiu o distanciamento da legenda dos ideais de esquerda.

A centralização do Partido Verde foi tema da conversa com o Juca Ferreira, que disse ainda não ter decidido sobre seu possível retorno à sigla em 2011 – quando vence o prazo da suspensão da filiação.

Além de admitir uma crise mundial de identidade entre os verdes, o ministro também minimizou o sucesso do PV brasileiro nas urnas em 2010, cuja candidata à Presidência Marina Silva (AC) atingiu a terceira colocação após obter mais de 19,6 milhões de votos.

- Não houve ‘onda verde’, houve uma ‘onda Marina’.

Na entrevista, Juca Ferreira também falou sobre a dúvida em torno do apoio de Marina a um dos adversários que disputam o segundo turno - Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) –, e contou como é assistir ao assédio da verde como “espectador”.

- Eu estou pela primeira vez depois de 20 e tantos anos participando de fora, e isso me dá uma sensação de estranhamento. Mas eu preferi suspender a minha filiação, porque eu não quis correr o risco de apoiar uma campanha que pudesse terminar no colo da oposição.

Veja abaixo os principais pontos da entrevista:

R7: O senhor, quando pediu suspensão da sua filiação ao PV, criticou o “pragmatismo” da legenda. O que mudou?

Juca Ferreira: O Partido Verde, quando surgiu no final da década de 80, tentou refletir a superação de todos aqueles dogmas da esquerda tradicional, assumindo uma série de questões do final do século 20 e do início do século 21, que representariam uma atualização da nossa sociedade, uma modernização. [...] Mas, ultimamente, o partido abriu um pouco mão do seu programa. [...] O PV não percebeu que havia a necessidade de ir evoluindo paulatinamente e se politizando e incorporando a questão ambiental a outras questões sociais e de construção da democracia. Então houve uma perda de identidade, o que faz com que reflita um empobrecimento. E isso não foi apenas no Brasil. Há uma crise geral na política e eu acho que os partidos verdes não estão incólumes diante disso.

R7: O PV dá sinais de que poderá apoiar José Serra (PSDB) no 2º turno das eleições presidenciais, embora a Marina tenha feito parte do PT, da candidata Dilma Rousseff. Como o senhor avalia esse cenário?

Juca Ferreira: No primeiro turno não houve uma onda verde, houve uma onda Marina. Porque o Partido Verde elegeu o mesmo número de deputados que na eleição passada. Não elegeu nenhum senador, não elegeu nenhum governador. Ou seja, os votos da Marina escorregaram um pouco para dentro do PV, mas muito pouco. Na verdade, a conquista de votos que houve foi em torno do nome dela. [...] Mas esses votos foram conquistados por ela, o Partido Verde não conquistou. Então, nesse momento, não é a posição que o PV vai tomar que é o mais importante. O mais importante é saber se a Marina vai apoiar o Serra. Se ela for apoiar Serra, eu acho que ela perde esse capital acumulado. Se ela ficar indiferente, é uma tentativa de preservar não esses votos, mas de preservar perspectivas de se consolidar como uma terceira via para 2014.

R7: E se apoiar a Dilma?

Juca Ferreira: Se apoiar Dilma acho que tem alguma coerência, mas é uma coerência que eu acho muito difícil que o Partido Verde acompanhe. Porque no Rio de Janeiro, por exemplo, o Partido Verde já se aliou ao DEM e ao PSDB. O próprio Gabeira [Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio] é o porta-voz dessa posição. E em São Paulo há muito tempo que o PV tem essa aliança com o DEM e com o PSDB. [...] Me parece que a maior parte do PV, a parte que controla a máquina, vai forçar a barra para que Marina apoie o Serra. Mas eu acho que ela vai resistir porque isso significa uma perda de densidade e do que ela acumulou na campanha.

R7: O senhor pretende voltar para o partido?

Juca Ferreira: Eu não estou pensando nisso ainda. Eu estou participando do debate de fora, conversando com as pessoas que eu tenho afinidade de dentro do PV. Eu pedi uma suspensão de filiação até meados do próximo ano, então eu não estou com ansiedade. [...] Nesse momento, eu estou interessado em contribuir com a eleição da Dilma. [...] Se houvesse maturidade no PV, a gente poderia contribuir programaticamente para incorporar no programa de governo aspectos que ainda não existem. Mas eu acho que só uma parte do PV compreende isso.

R7: O número de votos que a Marina teve no 1º turno o surpreendeu?

Juca Ferreira: Eu pensei o tempo inteiro com a capacidade da candidatura da Marina de atrair os votos programáticos. Os votos programáticos preocupados com o meio ambiente e com a sustentabilidade eu pensava que atrairia entre 8% e 13% do total dos votos. Mas o que houve é que ela agregou também o voto mobilizado pela questão ética, e atraiu também esse voto religioso. Então foi surpresa para todo mundo.

R7: O que o senhor achou da iniciativa da Marina de apresentar propostas aos adversários para definir o seu apoio no segundo turno?

Juca Ferreira: [...] Acho que a Marina está correta em dizer que essa discussão tem que ser programática. E se a [ex-] ministra Dilma [Casa Civil] e o comando da campanha incorporarem esses pontos, acho que não tem outro caminho a não ser apoiá-la. Assim o próximo governo do Brasil terá um compromisso maior ainda com a questão ambiental.

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