domingo, 22 de novembro de 2009

LUIZ BASSUMA - PRÉ-CANDIDATO A GOVERNADOR DA BAHIA - PV 2010...

O deputado federal Luiz Bassuma, pré-candidato a governador da Bahia em 2010 pelo PV, nunca perdeu uma eleição em suas duas décadas de atuação política. Engenheiro da Petrobras, ele foi presidente do Sindicato dos Petroleiros, vereador de Salvador e está em seu segundo mandato no Congresso Nacional. Nessa longa entrevista, ele fala sobre a sua carreira, militância, ideais, saída do PT e ingresso no Partido Verde, o que renovou o seu estímulo pela política. O parlamentar comenta ainda sobre projetos, corrupção, em que cita inclusive um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Lula, Marina Silva e Jaques Wagner. Nunca perdi uma eleição na minha vida."
Por Evilásio Jr., Daniel Pinto e Marcos Russo


BN - Como o senhor iniciou na carreira política?LB – Cada um tem uma história. Todas as histórias, claro, são diferentes. Na minha, eu nunca planejei militar na política. Ela aconteceu de uma maneira completamente fora do normal. Eu trabalhava na Petrobras, isso há mais de 20 anos. Minha área de formação é a de energia: eu sou engenheiro de petróleo estava com a vida normal até então, trabalhando, e aí surgiu uma grande greve na Petrobras depois da ditadura militar, entre 1988 e 1989, o primeiro movimento em 25 anos. Eu fui o único gerente da história da Petrobras a se opor a qualquer tipo de retaliação e perseguição aos trabalhadores na época. Isso gerou um escândalo na companhia, porque eu era gerente e tinha que cumprir o papel de patronal. A obrigação era reprimir os trabalhadores, demitir, mandar buscar em casa. Bom, com aquilo eu passei a ser um problema. Olha que história linda! A Petrobras não podia me demitir, pois não havia condições políticas para isso, eu tinha um currículo bom até o momento e aí ela me deu “castigo”. Eu não podia mais ser uma pessoa de gerência, porque virei uma persona non grata, e me colocaram sozinho para cuidar do meio ambiente. A Petrobras na Bahia não tinha nada, estava começando. Hoje não, a Petrobras tem uma megaestrutura nessa área. Então, na cabeça dos gerentes da época quem era designado para isso era considerado marginal, mas para mim foi um prêmio. Eu adoro o verde. E ainda me pagavam um salário bom, pois era melhor do que hoje. Mas quando eu quis fazer as coisas acontecerem, a Petrobras não queria e para fazer alguma coisa para reparar danos ambientais tem que investir. Você não investe só com discurso. E aí tudo o que eu pedia a Petrobras negava, negava, negava.
BN – Então como fazer para tentar atuar assim?LB – O que foi que eu fiz? Fotografei tudo por minha própria conta e me inscrevi em um congresso internacional no Rio, depois de dois anos de luta sem conseguir fazer nada, e denunciei a má vontade da Petrobras na Bahia. Não deu outra. Eu fui lá, meu trabalho foi bem aceito, aplaudido e reconhecido, mas voltei para cá fora da atividade, obviamente. Mas eu não queria continuar no faz de contas. Olha o que é a vida. Aí a Petrobras estava pensando se me demitia ou não, que castigo ia me dar. Dois anos depois, em 1991, o que aconteceu? Uma quebra de tabu. Eu virei presidente do Sindicato dos Petroleiros, sem ser filiado à entidade e sem ter ido a uma única assembleia dos trabalhadores. Isso em uma época em que o slogan era assim: “engenheiro é patrão, sindicato é para peão”. Eu fui o único profissional de nível superior a estar no sindicato e assumir de cara a presidência. Aí começou a minha experiência sindical que hoje eu entendo em minha vida que foi um curso de formação política, gratuito, em quatro anos. Foi uma época crítica; primeiro governo Collor, depois Fernando Henrique e para a Petrobras foi o pior. Um período crítico. Terminando a minha experiência sindical já era outro clima na Petrobras. Eu ia voltar para o meio ambiente, aí em outro clima, claro, outra visão. Mas os companheiros petroleiros me elegeram vereador de Salvador. Não teve campanha. Eu me filiei ao PT em 1995 e concorri para vereador em 1996, quando elegeram Zezéu, Pinheiro e eu. Foi a maior zebra! Todas as avaliações que faziam tinham uns 10, que eram os favoritos, à minha frente. Depois eu fui deputado estadual em 1998, deputado federal em 2002 e reeleito em 2006. Nunca perdi uma eleição na minha vida.
BN– O senhor já teve algum problema com o PT antes?LB – Até esse meu último mandato, em 2006, que está em curso até agora, eu nunca tive nenhum problema político com o PT. Nunca. Eu sempre cumpri todas as orientações. Até a minha luta em defesa da vida e contra a legalização do aborto. Esse projeto é polêmico e, para se ter uma ideia, há 20 anos tramita no Congresso Nacional. E eu contrariei uma posição de uma parte do PT em 2005, quando pela minha ação criei uma frente parlamentar para atuar nessa questão, pois não tinha. Chama-se Frente Parlamentar em Defesa da Vida e contra o Aborto, a qual eu sou presidente até hoje e reúne 220 parlamentares. Em 2005 a gente teve uma vitória política importante porque o aborto não foi legalizado no Congresso pela diferença de um voto. E foi pela nossa ação incisiva. Só que em 2007, o PT em um congresso, que é a instância máxima do partido, resolveu aprovar uma resolução por maioria a favor da legalização do aborto. Eu recebi aquilo e disse explicitamente que não iria cumprir, pois feria princípios éticos, filosóficos e religiosos meus. E por que eu escolhi o PT? Quando eu entrei no PT, ele era o único partido do Brasil e do mundo que tinha em seu estatuto o artigo 67, que diz que em questões de foro íntimo, questões éticas, filosóficas e religiosas, o filiado pode exercer livremente a sua opinião. É um artigo muito bonito, chamado popularmente de “artigo de consciência”. Eu sempre assumi que jamais mudaria a minha posição e estaria disposto a pagar qualquer preço por isso. Eu nunca quis que ninguém pensasse igual a mim, nunca quis que o partido pensasse igual a mim, mas que respeitasse a minha maneira de pensar. Então o partido não pode fechar questão quanto ao aborto, pois ela toca nesses quatro pontos. Eu sempre me guiei por esse artigo, mas aí o PT abriu um processo contra mim que levou um ano e finalmente, em 17 de setembro deste ano, o diretório nacional me julgou e o julgamento foi muito tenso, demorado – foram dois turnos a votação. Para expulsar um parlamentar tem que ter 38 votos, que é a maioria mais um do diretório nacional, e teve 35 votos pela minha expulsão, ou seja, faltaram três e teve muita abstenção. Aí o Berzoini, que é o presidente nacional do PT, palavras dele no julgamento, “eu sou um dos que abstiveram na primeira votação e felizmente a maioria o fez, porque nós não podemos tornar o Bassuma um mártir, um herói dessa causa”. E ele mesmo propôs que a pena fosse um ano de suspensão e aí passou com ampla maioria – 54 votos. Era muito melhor que o PT tivesse me expulsado, porque você fica impedido de fazer projeto de lei, impedido de falar pelo partido, de participar de qualquer fórum, enfim de exercer seu mandato. Aí eu e minha esposa (Rose Bassuma) decidimos nos filiar ao Partido Verde.
“Entre o Partido dos Trabalhadores e a minha consciência, não tenho dúvida. Vou optar sempre pela minha consciência."

BN – E quais foram os principais motivos para essa escolha?LB – Foram dois aspectos fundamentais. É uma espécie de reminiscência na minha vida. Eu não tive só desgaste com a Petrobras, foi um período de experiência nessa área do meio ambiente. Eu saí muito bem. Agora o fato principal foi a Marina Silva, claro. Também não pense que eu saí sofrido ou magoado do PT.
BN – Mas o senhor acha que o PT agiu acima do bem e do mal?LB – Foi um equívoco. Sabe o que eu pedi o tempo todo a eles? Por que vocês não consultam as bases? Quem tomou essa decisão foram as poucas pessoas que dirigem o partido. O PT, só na Bahia tem 30 mil filiados. Por que não fizeram um plebiscito sobre esse assunto? Aí eu aceitaria. Eu disse a eles que se me provassem que a maioria pensa assim, aí ou eu saía do partido, por ética, ou mudaria. Mais estou convencido que a maioria do partido pensa como eu. O PT faria algo que é da essência do partido, que cresceu fazendo aquilo que se chama democracia interna, dando voz e vez aos filiados.
BN – Eles não aceitaram o desafio?LB – Não quiseram.
BN – O senhor citou os momentos que antecederam a sua saída do PT. Deve ter sido um momento muito tenso em sua vida. Como o senhor elaborou a sua defesa?LB – Minha defesa tem vários tópicos, que estão até disponíveis em meu site. Dois pensamentos me fundamentaram. Um é de Voltaire, filósofo iluminista, que diz “posso ser completamente contra tudo o que você pensa, mas defenderei até a morte o direito que você tem de defender o que pensa”. E eu terminei a minha defesa assim: “hoje eu não vou chamá-los de companheiros e companheiras, porque hoje eu tenho que chamá-los de senhores e senhoras que estão instituídos na condição de juízes em um tribunal político”. E não citei nenhum filósofo ou religioso contemporâneo, citei Aristóteles que há 2,5 mil anos disse o seguinte: “O homem livre é senhor da sua vida e escravo apenas da sua consciência”. E aí eu disse a eles: “Entre o Partido dos Trabalhadores e a minha consciência, não tenho dúvida. Vou optar sempre pela minha consciência, porque assim como eu entendo que não existe uma meia vida, eu não posso continuar em um partido que quer me dar meia liberdade”.
"Quando eu me filiei, dois dias depois, sem nem conhecer os filiados do PV, eu estava dizendo 'eu quero ser candidato a governador pelo PV'.”

BN – E como foi chegar ao Partido Verde?LB – Quem me viu dois meses atrás e me vê agora pensa que sou uma pessoa diferente, principalmente quem convive comigo como minha esposa. Eu tinha perdido todo o meu entusiasmo com a política. Eu tinha decidido não concorrer a mais nada, antes mesmo do meu processo. Isso até eu entrar no PV. O que aconteceu comigo só tem explicação espiritual. Não tem explicação lógica e material. Isso é loucura. Quando eu me filiei, dois dias depois, sem nem conhecer os filiados do PV, eu estava dizendo “eu quero ser candidato a governador pelo PV”. O presidente Ivanilson Gomes, coitado, deve estar com cabelo branco com essa minha postura. Eu pedi a apenas ele que me desse aquilo que o PT não teve a capacidade de me conceder e me desse apenas uma permissão no Partido Verde: direito de liberdade de falar o que eu penso, defender as minhas idéias e aquilo em que eu acredito. E como eu estou acreditando que esse é o momento mais importante da história do Partido Verde. Um momento de grande oportunidade e de chamamento mesmo para missões mais importantes no Brasil e na Bahia. Eu estou me colocando desde já para ser o nome para disputar o Governo da Bahia, que não tinha ninguém querendo. Aquilo foi tomado como susto para muita gente. Marina já estava no PV e veio com esse propósito de ser a nossa candidata a Presidência da República.
BN – Mas ela interferiu nessa decisão?LB – Sim, porque eu já conhecia Marina. Eu fui conversar com ela antes de eu conversar com o Ivanilson. Porque ela tem a mesma visão de mundo que eu e isso me ajuda. Visão sobre a vida, sobre essas causas que eu defendo. Não é só a questão ambiental. É sobre a vida, sobre aquele meu processo. E ela pediu para o PV e o partido concordou. O PV era pior que o PT. Ele tinha em seus estatutos um artigo sobre a legalização do aborto e das drogas também. A marina pediu que esses dois artigos sejam retirados do estatuto do PV e seja implantado um artigo de consciência. Isso que o PT teve durante 29 anos e rasgou agora, o PV vai incorporar agora, vai virar um partido pró-vida. Por exemplo, o Gabeira tem visão pró-aborto e pró-drogas. Marina Silva contra o aborto e contra as drogas e eu também. Os dois vão conviver no mesmo partido, mas sem que o partido feche questão. Isso é para a liberdade de expressão e respeito às opiniões. Não é assim que tem que ser a democracia? Eu tenho que defender o que eu penso, mas respeitar quem pensa diferente. Isso foi o que me levou a ingressar no Partido Verde.
BN – E o que o senhor tem percebido com essa mudança?LB – Eu conquistei um entusiasmo político que não percebia em minha vida há 15, 20 anos. Boa parte da sociedade brasileira perdeu a motivação com a política. E não é à toa, porque os exemplos são terríveis. A política brasileira entrou em um patamar, nunca generalizando, pois existem exceções, em que a maioria dos políticos faz por merecer essa imagem negativa que a sociedade tem. Que os políticos não prestam e que é tudo sem-vergonha. Isso gerou um enorme grau de desânimo em uma parte expressiva da sociedade. E o PT era o partido que tinha essa idoneidade, era uma bandeira do PT e por isso cresceu. O que é que o PT pregava? É possível fazer política com ética, sem se acovardar e sem aderir aos esquemas tradicionais dos conchavos. E hoje o PT faz tudo aquilo que ele condenou. Por exemplo, quando ele sustenta Sarney lá no Senado, ele faz isso explicitamente, escandalosamente. Quando o líder do Senado, Aloizio Mercadante, um homem que teve 10 milhões de votos em São Paulo, vai um dia na tribuna do Senado e toma uma decisão “irrevogável” e no dia seguinte lê uma cartinha do Lula e diz que por causa dela voltava atrás, aí você vê que o PT perdeu completamente a sua alma, a sua identidade. E está um vazio hoje. O Partido Verde está sendo desafiado a sair da infância, porque é um partido pequeno comparado com os grandes, e rapidamente mudar para a maturidade, sem passar pela adolescência e pela juventude. É um chamamento. As opções estão colocadas aí: a Dilma, o Ciro e o Serra. E tem também a Marina Silva e aqui na Bahia a mesma coisa. Nós queremos dizer ao povo que você tem a opção do Geddel, do Paulo Souto, do Wagner, mas tem que ter também a opção do Partido Verde. Então, o PV não fechou nome nenhum, é bom deixar isso bem claro. Eu tenho trabalhado por isso, ofereci meu nome e estou lutando por isso. Lutando mesmo.


BN – Agora, o senhor fala que o PV foi desafiado pela sociedade, mas a gente sabe que tal qual o PT, a legenda também possui algumas pendências internas e está um pouco dividida aqui na Bahia. Algumas questões políticas e recentemente surgiu a instalação de uma usina nuclear na Bahia, em Sapeaçu. O Partido Verde está no Governo do Estado e algumas pessoas têm trabalhado para que a indústria venha para cá. Então o que o senhor pensa de entrar em um partido que também tem essas divisões?LB – É natural. Seria horrível entrar em um partido morno, em que todo mundo pensa igual. Qual é a natureza da política? É você ter a diferença. Agora tem algumas coisas em que cada partido tem premissas e aí fecha questão. O Partido Verde tem questão fechada em relação à energia nuclear. Nenhum membro do PV pode defender essa energia e graças a Deus eu fui contra ela a vida toda também. A Bahia e o Brasil não precisam de energia nuclear. Eu fiz um pronunciamento duro no Congresso nacional contra isso. Vamos fazer um movimento, se necessário for aqui, e vamos chamar a atenção da sociedade contra esse encaminhamento. Energia nuclear é cara, perigosa e até hoje não tem tecnologia para tratar com segurança os resíduos radioativos. Depois de 30 anos ficam lá guardados em uma caixa preta. É perigoso e é caro. É um investimento de R$ 10 bilhões. A Bahia até hoje não investiu como deveria em energia eólica, que é a energia dos ventos, e tem um potencial de geração de ventos de 40 mil megawatts. É muita energia. Então, com esse dinheirão todo você deixar de investir em energia nuclear e investir em energia eólica, que é uma energia limpa. Está tudo mapeado, inclusive, e só falta o investimento. O Ceará, por exemplo, está investindo nisso, com dinheiro do BNDES. O Maranhão também e a Bahia não está fazendo nada.
BN – O senhor colocou-se à disposição para que o partido tivesse um candidato ao Governo do Estado. Não seria um preço político muito caro colocar em risco uma possível reeleição á Câmara dos Deputados, já que o senhor tem um trabalho consolidado nas bases? Já dentro do partido outros nomes para disputar vaga no Congresso Nacional?LB – Primeiro não sou candidato a deputado em hipótese nenhuma. Então, se meu nome não for aprovado como candidato a governador, não tem problema. Vou continuar com o mesmo empenho no PV, vou ajudar o partido, sem ser candidato a deputado. Essa decisão já está tomada. Eu já estou no meu quarto mandato e sou contra reeleições eternas. Eu acho que devia ter renovação, pois isso não é com para a democracia. Se você não fez algo bom em dois mandatos, não é em três ou quatro que você vai fazer. Agora sobre o segundo ponto, pela primeira vez teremos chance. Agora tem Marina Silva, não esqueça, candidata a presidente da República, e pode ter certeza de que ela vai crescer. É uma candidata bem provável de ir ao segundo turno. Não é uma candidaturazinha para ficar lá nos 2%, 3%, 4% não. Então nós temos condição, lançando candidato a governador na Bahia, apesar de reconhecer que eleição para governador é difícil, de eleger um senador. Seja que nome for, porque aí o partido vai ter voto de legenda como nunca teve na vida. Na minha opinião, quem vai perder muito voto de legenda em 2010 é o Partido dos Trabalhadores, que sempre foi campeão, pois está desgastado junto à opinião pública. Nós vamos montar uma chapa de deputados que pode ter três ou quatro estaduais e dois ou três federais com tranquilidade. A candidatura a presidente e a governador impulsiona a chapa proporcional e a legenda também. Eu tenho estimulado as pessoas mostrando isso e muita gente que estava com receio já entendeu. O Partido Verde, ao se colocar para a sociedade, só tem a ganhar e pode surpreender. O fato de ele disputar, se torna uma alternativa de poder. Você vê alguém xingar o PV ou falar mal? Todo mundo é simpático. É mais visto como uma ONG do que como um partido. Agora não. A conjuntura mundial pautou como prioridade máxima do Planeta Terra a questão do desenvolvimento sustentável, que é a grande bandeira do Partido Verde.
BN – Agora eu queria que o senhor falasse como o cidadão comum pode se sentir motivado a apoiar o Partido Verde, por conta dessa temática, e gostaria que o senhor comentasse os principais desafios da candidatura de Marina Silva. Ela é um fenômeno também, tal qual o presidente Lula, mas sem recurso e sem tempo de TV, como atingir a maioria do eleitorado brasileiro?LB – Vocês conhecem a história de Marina, mas o povo não conhece. Na hora em que o povo começar a conhecer a vida e a trajetória de Marina Silva, ela é mais forte do que a do Lula. E carisma. Sabe o que é energia? Verdade? Isso tem muita força em uma eleição. O outro ponto é que o desenvolvimento sustentável não se trata de ecologia e meio ambiente. Esse assunto toca e pauta todos os demais. Qual é hoje a questão crucial da humanidade? É quebrar o grande paradigma que há um século diz que quem é a favor do crescimento econômico não pode ser a favor do meio ambiente. Isso é uma mentira. Hoje, o mundo já provou o contrário. Lixo não é um grande problema da humanidade? Pois no nosso ponto de vista, lixo não é um problema e sim solução. Gera renda, gás metano, produtos reciclados, indústria. A questão do desenvolvimento sustentável toca na saúde, na segurança pública, na economia. É uma outra forma de economia, ou seja, é você ser criativo e não mais agredir a natureza. A atual forma de economia ajudou em que a população? Ela agrediu a natureza e tornou uma meia dúzia de pessoas muito ricas. Ou seja, concentrou riquezas e causou muita miséria. O nosso modelo que a gente quer para o mundo é totalmente diferente. Você vai integrar crescimento econômico com a preservação da natureza. E é possível. Estudiosos defendem isso, não é uma tese romântica. Diferentemente da última eleição, em que Cristovam Buarque pautou a questão da educação do início ao fim, e foi visto por toda a mídia como monotemático e não passou dos 3%, este não é o caso. É totalmente diferente. Por que é que eu estou provocando o partido Verde a definir logo os nomes da chapa majoritária? É igual ao caso de Marina Silva. O crescimento dela não vai se dar durante a campanha. Não é quando começar o horário de televisão que vai ser somente em agosto de 2010. Vai ser de agora até junho, que é o mês em que as candidaturas vão ser oficialmente aprovadas em convenção. Daqui para lá o debate é com a sociedade. Não é tempo de TV. É debate de projetos e de ideias. Então, é essa hora que nós temos que crescer e nos apresentar e a sociedade está ávida por isso. Ela quer discutir isso aí. Então eu quero que aconteça a mesma coisa na Bahia. BN – É um grande desafio...LB – Desafiador e entusiasmante.
Até ontem você tinha sido convocado para cuidar da gestação da mulher e a vida agora te chama para cuidar da gestação da Terra.”

BN – Deputado, o seu trabalho na Câmara mudou com essa mudança de partido?LB – Isso mudou. Eu até recebi uma mensagem espiritual curta, psicografada, de um espírito que mostrou uma nova dimensão para mim: “até ontem você tinha sido convocado para cuidar da gestação da mulher e a vida agora te chama para cuidar da gestação da Terra”. É como se eu tivesse sido preparado nos últimos três anos no PT, que foram anos difíceis, para este momento. E por isso talvez o meu entusiasmo e a minha motivação cresceram tanto. Então mudou meu foco, claro. Hoje estou estudando todos os assuntos, até porque estou me colocando para ser governador, para poder apresentar rapidamente propostas que sejam exequíveis. Na área de educação, saúde, segurança, enfim, todos os segmentos que tocam na nossa vida de maneira direta. Energia, como falamos sobre a nuclear, para mim é mais fácil, pois como sou especialista já estou formulando um material rapidamente. Agora nós vamos fazer os encontros regionais por toda a Bahia até dezembro para ver se a gente afunila os nomes até lá.
BN – Em quantas cidades?LB – O Partido Verde está organizado formalmente em 300 municípios, agora onde ele tem vida política mesmo cai muito. Acho que não passa de 100. Mas fazer esse trabalho não vai ser difícil, porque a Bahia concentra 40% da população em 3% das cidades, que são as 12 maiores. E essas cidades têm movimento social, estudantil, acadêmico – são cidades-pólo. Então, nós não vamos ter pernas para correr toda a Bahia e pretendemos fazer os debates da ideias principalmente nesses locais. É viável, mas temos que começar já. E nós vamos disputar o Governo do Estado. Isso foi questão fechada pela convenção nacional do partido em Belo Horizonte. Nós temos que ter candidato nos quatro principais colégios eleitorais do país, São Paulo, Rio de janeiro, Minas Gerais e Bahia, pelo menos, senão a Marina não terá palanque. Então quem pensava em fechar a manutenção da aliança com Wagner está equivocado. Não há a menor possibilidade.
BN – E, além disso, o partido terá obviamente que se desincompatibilizar do governo atual...LB – Sim. Não há a menor dúvida disso. Acho que até dezembro isso vai acontecer, na minha opinião. Porque na hora que fecharmos os nomes para o Senado e para o Estado será uma questão ética. São quatro vagas na chapa majoritária. Nós não podemos fechar todos, teremos que buscar alguma aliança, claro, mas tem que começar a chapa com dois nomes pelo menos. Agora eu penso que o partido não precisa obrigar que seus membros que estão lá saiam, mas tem que comunicar ao governador que a partir de tal dia está fora do governo.
"Tem gente que acha que tem que legalizar (as drogas) para resolver o problema. Eu sou contra, senão vamos ter que legalizar homicídio também."

BN – O senhor não esconde de ninguém essa vontade de disputar o Governo do Estado. Agora a gente sabe que para ser uma alternativa consistente tem que oferecer propostas em diversas áreas e tem setores que são críticos. Lixo, segurança pública, saúde, infraestrutura aeroportuária e portuária, estradas. Já está sendo montado um plano de governo com propostas viáveis para a Bahia? LB – Estou estudando ainda, mas o nosso debate vai ser de uma riqueza enorme. Está cheio de gente boa em universidades, em ONGs e organizações querendo contribuir. As diretrizes nós já temos que consistem em uma quebra de paradigmas. O que a Marina tem dito? Aliás, não só ela, mas o Ciro e o Aécio também. Ninguém é anti-Lula, até porque ninguém é burro de ser anti-Lula, mas é pós-Lula. Isto é, reconhece todos os avanços, que são inegáveis do governo Lula, mas que são insuficientes e precisamos avançar mais. Sobre segurança eu já tenho o que falar. Segurança você nunca resolve tratando como caso de Secretaria de Segurança, que é o caso do governo Wagner. É um problema de polícia também, mas essa é uma faceta. A Segurança Pública tem que ser tratada como uma coisa no mínimo tripartite. A repressão tem que existir, pois o mundo ainda não está preparado para viver sem isso. Mas ela sozinha não resolve quase nada. A outra área que tem que estar profundamente agregada é a área social...
BN - ...Mas o Pronasci ainda não conseguiu fazer isso?LB – Ainda é muito incipiente. Tem que sair do papel e da teoria. Tem dinheiro para isso, mas ainda é muito tímido. O outro ponto é a inteligência. O tráfico de drogas não é um grande problema hoje? Então, essa é uma opinião minha, ainda vou debater com o Partido Verde sobre a opinião dele, mas eu vejo uma solução simples para esse problema. Simples e com pouco dinheiro. Serviço de alta inteligência com pouquíssimos especialistas, tipo FBI. Investir em alta capacitação técnica para pegar os chefões do crime. Ou seja, onde entra a droga. Lá em cima. O Estado tem todas as condições de treinar profissionais com os melhores do mundo. Não interessam os níveis intermediários do crime. Agora você não tem que pegar só lá e deixar os de baixo. A sociedade hoje em dia está sendo tolerante com o consumo de drogas, o que é incompatível se você é contra o tráfico. Eu, por exemplo, sou contra a legalização das drogas e como sou contra tenho que defender alternativas. Tem gente que acha que tem que legalizar para resolver o problema. Eu sou contra, senão vamos ter que legalizar homicídio também. O Brasil mata 40 mil pessoas por ano e é crime. Então vamos legalizar porque não vencemos? É possível? Sou contra. Então, quem é usuário de drogas não pode ser tolerado. Eu defendo que ele nunca deve ser registrado ou ir para a cadeia. Quem é usuário nunca deve ser tratado como criminoso, mas também não pode ser tratado como uma coisa em que não está acontecendo nada. Todos os consumidores vão destinar um dia na semana e ir lá fazer faxina nos hospitais, nas escolas, fazer algum trabalho social cada vez que for pego. Na minha opinião, você tem que agir em baixo no social. E como resolver a questão do exército do tráfico, que são os meninos pobres das comunidades mais carentes que eles usam para fazer o crime? Esportes, artes e geração de renda. E sabe de onde que eu resolveria aqui na Bahia? Lixo. O lixo pode ser uma solução. O Estado tem que subsidiar a reciclagem, para não ser como é hoje, que é de faz de contas. Quem ganha é o intermediário que pega a latinha que o cara coleta, e ganha um centavo, e fatura em cima. Além de ser pouco. O Brasil gera por dia mais ou menos 100 milhões de quilos por dia. O índice médio de reciclagem não chega a 10%. Tem lugares que é 3%, 4% - baixíssimo. E pode ser 90%. Então, o jovem que hoje vai para o mundo das drogas, vai porque não tem lazer e vive uma subvida. Não vai ter dinheiro para a Copa do Mundo em 2014? A Bahia não pode perder essa oportunidade. Vai só receber a Copa? Tem que criar minivilas olímpicas em todo o local de concentração urbana de gente pobre.
"A corrupção se instalou como um câncer em metástase no Brasil e o Lula poderia ter enfrentado isso. Mas ele não quis fazer."

BN – o senhor que circula há tanto tempo no Congresso Nacional, em relação ao tráfico de drogas, há um boato que circula na sociedade de que esses grandes que o senhor cita são justamente políticos e empresários. O senhor já vivenciou alguma situação que fundamente esse argumento?LB – Eu escuto isso também, agora eu nunca vivenciei nada do meu lado que pudesse constatar isso. Jamais.
BN – Mas o senhor acha que há parlamentares e empresários que financiam o tráfico de drogas no Brasil?LB – Eu lembro que o Lula, antes de ser presidente, quando ele fez aquela declaração, que até o Paralamas fez uma música bonita que dizia que no Congresso tinha 300 picaretas, que ficou o escândalo e tal...
BN – Luis Inácio...LB – Isso. Ele falou que tinha 300, né? Eu estou lá há seis anos e meio, quase sete, e te digo que tem gente boa lá, viu? Gente boa, gente ótima, honestíssima. Mas são poucos. Muito poucos. Dos 513 parlamentares, eu te digo, se for o cara mais otimista do mundo, que de gente de caráter, que esteja interessada na melhoria do povo são no máximo 100. Então o Lula foi até generoso. O resto está lá para fazer negócio. E quando eu falo negócio não tem ética. Dá lucro e não tem risco? Então, o negócio das drogas é possível sim, claro. Os paraísos fiscais do mundo, que são a maior aberração do capitalismo, são alimentados por três pontos: tráfico de drogas, tráfico de armas e corrupção. Quem está na corrupção está a um passinho. Está vizinho da droga e da arma. Para entrar nesse mundo é um passo. Eu acho que essa suspeita é perfeitamente verossímil. E para mim esse é o maior problema do Lula. Falei isso a ele pessoalmente. Para mim ele vai sair como o melhor presidente que o Brasil já teve. Pode ser que tenhamos no futuro melhores. Agora ele perdeu a grande oportunidade de fazer a redenção da nossa nação. Com a popularidade que ele tem e com a liderança que ele tem – ele, um homem – podia quebrar o círculo vicioso da corrupção no Brasil. O Supremo tem gente corrupta. Tem um ministro lá que está sentado há três anos e meio em cima de dois processos do Paulo Maluf. Por quê? Só para dar o voto. Depois de 30 anos tramitando está lá na mão dele.
BN – Quem é ele?LB – É o Lewandowski (Ricardo). Ninguém tem coragem de dizer, mas eu denunciei lá na tribuna, mas não adiantou nada. Por que ele não resolve? É por ideologia? A corrupção se instalou como um câncer em metástase no Brasil e o Lula poderia ter enfrentado isso. Mas ele não quis fazer. Ele se acomodou com o sistema corrompido. Essa é a principal falha dele.
Não faremos alianças de conchavos, mas buscaremos os melhores quadros para fazer um governo que mereça ser chamado de governo. Este é o desafio."

BN – Por falar nessa bandeira de luta contra a corrupção, uma das pessoas que mais defendem no Brasil a questão da moralidade é a vereadora de Maceió Heloísa Helena. Mas tanto em nível nacional quanto local, como o ex-candidato a prefeito de Salvador, Hilton Coelho, muitas lideranças do PSOL não concordam com uma aliança com o PV. Como estão essas negociações e quais são as legendas mais propensas a se unir com o partido?LB – O que eu tenho defendido no PV, desde que eu cheguei, inclusive faço desenhos e mapas, é que temos que ter pressa. Não podemos perder tempo. Temos que definir logo esse negócio de nome. O Partido Verde tem que utilizar esse tempo que vai de dezembro até junho, nacionalmente e na Bahia, para dialogar com a sociedade, se manifestar publicamente, em passeatas e caminhadas, com muita criatividade, e discutir projetos, porque é nesse momento que nós temos que crescer. Enquanto o Partido Verde não for visto pelos outros partidos como uma possível alternativa, ninguém vai querer se aliar. Qualquer pesquisa que fizerem hoje, pode ser o melhor nome, o PV terá 2% e com esse índice ninguém vai querer se aliar. Agora, se em junho nós estivermos com 15%? A Heloísa Helena já disse pessoalmente que apóia a Marina. Na última pesquisa ela aparece com 6% e não vai ser candidata. Isso somado conosco dá uma boa margem, mas o PSOL tem divergências tanto na Bahia quanto no Brasil. Talvez eles saíam com um candidato próprio a presidente que é o Plínio de Arruda. Mas aí cai naquela casa de 1%, 2%. O Ivanilson tem conversado muito com o PCB, PPS e o PSOL, mas isso não tem pressa, porque decisão de aliança só se faz em junho. Então nós temos que abrir conversa com quem quiser conversar. Agora, nós temos que nesse período ganhar musculatura e podemos fazer isso. Eu trabalho com a hipótese de que na Bahia, e falo baseado nas últimas pesquisas, se a eleição fosse hoje, entre Geddel, Wagner e Paulo Souto, você tem pelo menos 20% dos eleitores que querem votar, que não votam em nenhum dos três. Não é gente que quer anular voto. Isso está demonstrado. Então, nós temos no mínimo esse patamar da sociedade para poder conquistar. Então quando o Partido Verde se colocar e as pessoas verem que é sério, que não é aquela coisa romântica, os outros partidos verão com outros olhos essa possível aliança. Mas vai depender muito do nosso trabalho nesses seis meses. E acho que temos tudo para crescer, porque existe esse vazio ideológico. A juventude, por exemplo, está completamente desmotivada e distante da política. Não se entusiasma. Com Dilma? Não tem como. O Lula está fazendo com Dilma o que antigamente o Antonio Carlos Magalhães fazia. Lembra que ele dizia “eu elejo um poste na Bahia”? O Lula está achando que ele elege quem ele quiser no Brasil. Não é assim. O povo ama o Lula, mas com a Dilma estão fazendo dela algo artificial. E candidato não pode ser artificial. Ele tem que ter verdade senão não convence ninguém. E como a Dilma está sendo construída artificialmente, não vai a lugar algum. Na Bahia nós temos esse cenário favorável. Na minha opinião, lembra como foi em 2006, aquela surpresa? Ninguém esperava. Nem o próprio Wagner nem o PT esperavam ganhar a eleição em primeiro turno. O que a Bahia fez naquele momento? Ela ousou e fez uma ousadia que não dependia de campanha. Era um momento de mudança. Hoje, na minha opinião, parte expressiva desse povo que votou no PT está descontente. Não quer mais continuar com esse projeto. Então nós temos um espaço para colocar essa discussão na sociedade.
BN – Qual é a avaliação que o senhor faz, fria e sem rancor, do governo Wagner, ao qual o senhor era aliado até pouco tempo atrás? LB – Primeiro esse sem rancor eu gostei, porque o que algumas pessoas falam é uma inverdade. Eu tenho milhares de amigos no PT e vou ter a minha vida toda. Isso transcende a política. O fato de o PT ter me punido com 12 meses de suspensão, que era praticamente uma expulsão, não fez com que eu mudasse o meu respeito. Mas a minha crítica ao PT, e tenho provas disso, já começou desde o mensalão em 2005, quando de lá para cá tenho feito várias críticas públicas. Então, não é de hoje e não foi por causa do meu processo. Eu tenho criticado a postura do PT de ter se acomodado às estruturas viciadas do poder. Na minha opinião, o PT se tornou um grande partido da ordem, ou seja, aquele que disputa o poder pelo poder. E 20 anos atrás não era esse o PT. Wagner tem acertos no governo? Claro que tem, como o Lula tem. Mas é suficiente? Eu estou satisfeito? Não, não estou satisfeito e o cidadão também não está. Então temos que mostrar uma alternativa e o Partido Verde é essa alternativa. Sem rancor, sem mágoas. Não existe isso. Não quero ser na Bahia anti-Wagner, assim como não quero ser anti-Geddel nem anti-Paulo Souto. Sabe por quê? O PV se ganhar a eleição, no Brasil ou na Bahia, não tem quadros para governar. Nós somos um partido pequeno. Vamos ter que buscar os quadros aonde? Na sociedade e em todos os partidos. Você acha que não tem gente boa no PMDB, no DEM, no PSDB? Tem. Todo lugar tem gente boa. Não é só no PV não. No PV tem também. Então, nós do Partido Verde não teremos nenhuma dificuldade para, em ganhando uma eleição, buscarmos pessoas qualificadas em outros partidos. Não faremos alianças de conchavos, mas buscaremos os melhores quadros para fazer um governo que mereça ser chamado de governo. Este é o desafio.

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