domingo, 29 de novembro de 2009

Marina Silva: A história da mulher que pode mudar o rumo da política no Brasil.

Em entrevista a Revista TPM, a senadora Marina Silva, fala da sua trajetória de vida desde o seringal e como conseguiu superar os limites que a vida lhe impôs. Defende sua visão sobre o desenvolvimento sustentável e mostra que está firme na batalha pela presidência do país em 2010. Sua pré-candidatura à presidência da república já conta com apoios importantes como o empresário paulista, Roberto Klabin, Ricardo Young e Guilherme Leal – este, um dos controladores da Natura, cotado para ser o vice da chapa.
Há 3 meses filiada ao PV, Marina já movimenta milhares de apoiadores e militantes em todo país, que como ela, acreditam que pode-se fazer política de uma forma diferente – pensando no desenvolvimento sustentável do país.
Acompanhe os principais trechos da entrevista.
Tpm. O Brasil está pronto para eleger uma mulher presidente?
Marina Silva. Se já elegeu um sociólogo e um metalúrgico, está pronto pra eleger uma mulher.
O país não é muito machista para isso?
Mas é também muito ousado. A sociedade brasileira é capaz de se colocar à frente de seus próprios preconceitos.
A senhora é mulher, negra, tem uma origem pobre e é evangélica. Já sofreu preconceito por ser mulher?
Às vezes as pessoas usam isso até para se promover… [Ri] Mas não sofri, não. Pelo contrário, era uma vantagem. Ameaçavam o [líder ambientalista assassinado em 1988] Chico Mendes, e eu, que fazia as mesmas coisas e tinha as mesmas lutas, nunca fui ameaçada. É bom quando as pessoas não ficam tão preocupadas com você, deixam você trabalhar. Faça e aconteça, depois as pessoas vão perceber.
Já sofreu preconceito por ser negra?
Não. Venho de uma realidade bem diferente: minha mãe era branca, mas era apaixonada por meu pai, negro. E ela era
uma matriarca. Fui descobrir o preconceito contra a mulher e contra o negro na cidade.
Por ser pobre?
Não.
Nem quando trabalhou como doméstica?
Não. As pessoas me respeitavam, me acolhiam. Nunca fui de me colocar no lugar de vítima nem de ficar confrontando as pessoas. Senti preconceito por ser excluída entre os excluídos: “Ah, a Marina é seringueira, é filha de seringueiro”. Quando fui fazer minha identidade, a mulher não queria que colocasse que nasci no seringal Bagaço. Era feio dizer que nasci lá. “Minha filha, você já tá morando aqui, diga que é da cidade…” Fiz ela botar o Bagaço.

Sofreu preconceito por ser evangélica?

Isso sim. As pessoas têm uma visão preconcebida… Obviamente tem base de realidade, mas preconceito é quando você generaliza uma coisa: se você é evangélico, é conservador. Algumas pessoas, até amigas, já falaram: “Achava você tão inteligente, como pode ser da Assembleia de Deus?”.


O que a senhora responde?
Sorrio para elas.



A senhora já fez aborto?

Não, não.

O que acha da legislação?

Existe uma legislação consolidada, que permite o aborto em alguns casos, como estupro, risco para mãe e algumas questões envolvendo o feto. Do ponto de vista pessoal, me coloco em uma posição contrária ao aborto.
Não deveria ser legal a mulher decidir abortar ou não?
Isso tem uma complexidade muito grande. Envolve aspectos culturais, filosóficos e espirituais. Numa questão como essa o adequado talvez seja fazer um plebiscito. Não será o presidente que irá, por decreto ou por qualquer atitude, resolver uma coisa dessas.
A senhora considera que teve uma infância dura?
Era dura, mas a gente funciona pela dualidade. Não tinha contato com pessoas ricas, só com pessoas semelhantes à gente. Então, ficava difícil reclamar se a vida de quem estava ao lado era parecida com a sua. Sabia que era dura no sentido de trabalhar no roçado, de cortar seringa. Mas eu e minhas irmãs trabalhávamos brincando. Não era um trabalho forçado, era um trabalho necessário, que fazia parte da ajuda à família, da aprendizagem… Tinha muita diversão.

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